São muitas as estratégias de conservação da natureza adotadas em todo o mundo, dentre elas, a determinação de áreas especialmente destinadas à conservação é muito popular e muito presente, inclusive, na abrangência da Serra do Espinhaço. Mas, seja qual for a estratégia de conservação à ser adotada, é fato de que os objetivos de conservação só serão plenamente alcançados se houver um efetivo processo de educação atrelado à ela. Isso por que, como já dizia Paulo Freire, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, indicando que qualquer mudança almejada só pode ser alcançada e sustentada quando há um processo educativo capaz de mobilizar e envolver as pessoas com determinada causa, no caso, a conservação da natureza.
Mas, de que tipo de educação estamos falando? Estamos falando da educação formal – aquela que é conduzida pelas escolas, mas também da educação não formal – aquela que é experimentada quando vivenciamos os Parques, por exemplo. O que mais importa é que seja um processo educativo emancipador, libertador e crítico – baseado nas ideias de Paulo Freire. Um processo educativo que, longe de ser simplista e ingênuo, parte do princípio de que os problemas ambientais têm as mesmas raízes dos problemas sociais, portanto, para conservara natureza é preciso também combater desigualdades e injustiças. Também estamos falando de um processo educativo contextualizado, ou seja, que parte das vivências dos educandos, respeitando seus saberes prévios, sua cultura e suas necessidades. Isso significa que o conteúdo precisa estar conectado ao cotidiano das pessoas, tornando o aprendizado significativo e relevante. E, por fim, trata-se de um processo educativo dialógico, que respeita e valoriza os diferentes saberes e fazeres, reconhecendo que o conhecimento científico sozinho não é suficiente para alcançar a conservação da natureza
Já defendemos aqui a importância da educação para o alcance da conservação da natureza e, agora, vamos defender a importância da educação na natureza!
Estamos falando dos espaços não formais de aprendizagem, locais fora da escola onde também acontece o processo educativo, tais como museus, zoológicos ou praças. Aqui, chamamos atenção especialmente dos ambientes naturais, como áreas verdes em ambientes urbanos, Parques e outras áreas protegidas. Por meio do percurso em trilhas ecológicas, da contemplação da paisagem e da experimentação da natureza de diversas formas, o uso desses ambientes pelas escolas adjacentes favorece – e muito! – a educação contextualizada. Esta contextualização, conforme já defendemos, promove a valorização da natureza, da cultura e da história do próprio local, ou seja, conecta o conteúdo escolar ao cotidiano dos alunos, tornando o aprendizado significativo e relevante.
A Serra do Espinhaço está plena de oportunidades nesse sentido, são muitas Unidades de Conservação, em especial os Parques, com trilhas e ambientes que funcionam como verdadeiros laboratórios a céu aberto. Apesar de apresentarem incrível potencial, esses espaços não formais de aprendizagem ainda são subutilizados pelas escolas, uma realidade comum em todo o Brasil. O tema é um prato cheio para pesquisas que buscam compreender os desafios e oportunidades do uso desses espaços e como melhorar o atual cenário.
Embora o uso desses espaços pelas escolas não seja uma novidade, apenas recentemente estes os espaços e os processos educativos neles desenvolvidos começaram a ser investigados por pesquisadores quanto às oportunidades e limitações que apresentam. Foi nesse sentido que, em 2023, iniciamos nossa própria pesquisa para saber quem são e o que pensam os professores e educadores que desenvolvem atividades educativas na natureza da Serra do Espinhaço. De forma bem resumida, descobrimos que, embora haja muitos e diversificados desafios, as atividades educativas na natureza do Espinhaço favorecerem a construção de um conhecimento coletivo, participativo, interdisciplinar e contextualizado. Nosso trabalho busca compartilhar as lições que aprendemos para inspirar outros professores e promover o uso e a conservação desses locais, o que, em parte, fazemos por meio deste Portal.
Se você também se interessa por pesquisas sobre atividades educativas na natureza, vai gostar da seleção de trabalhos de interesse que deixamos aqui como sugestão de leitura: